¤ Relato do nascimento de Pietro, filho de Kellen e Salvador


Pietro nasceu no aconchego da nossa casinha.

Foi um acaso, mas também a realização de um desejo, que eu só não propus e programei junto com Salvador, porque temia os tantos anos de idade que tenho (41), acreditando em um dos tantos tabus que propagam muitos médicos e que tantos de nós acabamos embarcando.

Não podia deixar de relatar minha experiência. Entre uma das tentativas de saída para o hospital, percebi que o bebê já estava chegando: acocorei e segurei a cabecinha dele e logo em seguida seu corpinho. 

Nesta hora já não senti dor, aliás acho que não senti nada, talvez perplexa com o que estivesse acontecendo, e logo depois muita alegria, muita mesmo, assim como o Salvador que junto com Lucia (nossa doula) desenrolava o cordão do corpinho dele e chorava, mais do que o bebê. E o estado de êxtase ainda continuou por um bom tempo quando fiquei segurando-o junto ao meu corpo, no que ficamos por mais hora e meia, quando chegou o Dr.Hugo, que muito gentilmente foi até em casa para avaliar como eu estava e acabou por ajudar na retirada da placenta. O Salvador então cortou o cordão e junto com a Lucia deu o banho nele.
Muitos comentam a coragem e ousadia da façanha, mas depois de acompanhar as conversas do grupo de parto alternativo do CAISM, fazer algumas leituras e me preparar durante a gravidez para um parto natural, tendo a avaliar que estas características têm as pessoas que fazem o parto em um hospital, no qual nem o espaço nem os profissionais estão preparados para partos normais e sim para partos de risco ou complicados e em não sendo assim, em geral se apuram para fazer um parto rápido: estouram bolsa, espetam agulha, dão citosina e para tanto ficam o tempo todo fazendo exames de monitoramento. Pelo menos no CAISM a sala de pré-parto tem três macas entre as quais mal cabe uma pessoa e dentro dela apenas um banheiro. Além do que esta sala fica dentro do centro cirúrgico onde todo o espaço inspira procedimentos operatórios. Parto é algo simples e tanto mais simples se feito em um espaço familiar: fiquei várias horas no banheiro de casa onde saia da privada para o chuveiro ou para andar pela casa e foi em uma destas caminhadas que provavelmente o bebê encaixou e chegou… Não sei se estaria tão à vontade em qualquer outro espaço e tanto menos se não fosse com pessoas queridas.
Á 1h da madrugada do dia 28 de setembro as contrações começaram, mas ainda eram tranqüilas, de forma que entre uma e outra, liguei o computador para terminar de digitar o plano de parto (documento no qual dizemos como desejamos que seja o parto, uma ilusão que em um hospital público alguém fosse dar atenção para os nossos desejos, mas quem sabe: ainda existem pessoas sensíveis neste mundo…) e também terminar de aprontar a mala que levaríamos para o hospital. Às 5hs da manhã as contrações começaram a ficar intensas e constantes e aí pedimos a presença da Lucia que muito me ajudou com as posições para melhorar as possibilidades de encaixe do bebê bem como a encarar a dor. Não nego a dor do parto, pelo menos a que eu senti, a qual nem conseguiria descrever, e é de fazer qualquer um vacilar: vacilar e pedir a anestesia, o que eu absolutamente queria, pois desejava permanecer presente de corpo e alma o tempo todo durante o trabalho de parto, pois assim acredito também o bebê estava. Ainda que indescritível ela passa, assim como a gente se recupera.

Às 8:45hs o Pietro nasceu com 3,100Kg, 49 cm de altura, com um rosto sereno e pelo menos por enquanto é muito tranqüilo e galego como quê. De resto, é igual os outros bebês: a pele macia, a mãozinha tão pequena que segura um dedinho da gente e com uma unha tão pequena que dá dó (e medo) da gente cortar, o cabelo fininho e um chorinho gostoso de ouvir (quando a gente desconfia o motivo)…

Estamos tão felizes em casa que estamos até pensando em repetir as experiências.

Bem, já me estendi bastante, poderia continuar a listar aqui uns tantos motivos para um parto natural e se possível em casa, mas fica para os nossos bate-papos onde certamente muitos de vocês têm tantas outras experiências.
Eu tinha a impressão que o parto iria ser antes da DPP.
Pura impressão.

Abraços
Kellen

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